25/04/2007

A física de Aristóteles

Aristóteles discípulo de Platão e mestre de Alexandre, O Grande, nasceu em Estagira no ano 384 a. C. .
Conservam-se alguns fragmentos dos seus escritos de juventude (diálogos de conteúdo e estilo platónico), bem como um número considerável de tratados completos cujo conjunto se denomina corpus aristotelicum. Os tratados mais importantes são dedicados a questões da lógica, de filosofia da natureza e biologia (os mais importantes deste grupo são a Física e Acerca da Alma), de ética (Ética a Nicómaco) e de política (Política). Escreveu também a Metafísica, obra dedicada a questões de Ontologia e Teologia, e a Física.
No que respeita à Física, esta é muito próxima da sua cosmologia, por isso para compreendermos a sua proposta física é necessário fazer referência à sua cosmologia. Tal como os primeiros filósofos, os pré-socrárticos, também Aristóteles procurou explicar a arché (substancia primordial) do mundo. Ao invés dos filósofos anteriores, concluiu a existência de cinco substâncias primordiais, o ar, água, terra, fogo e éter.
Deve haver uma ousía ou substância que permaneça na mudança e que seja o sujeito que sofra e através do qual se levem a cabo tais transformações. Por substância, Aristóteles entende tudo o que existe, ou seja, tudo o que tem existência efectiva, que seja substancial. Assim, tudo o que é ou existe, existe em potência ou em acto. Um ser pode ser actualmente ou apenas uma possibilidade. Potência significa capacidade, qualificação, possibilidade. É a possibilidade de chegar a ser algo que ainda não é de facto. Uma semente não é ainda uma árvore, mas tem-na em potência, tem a possibilidade de se tornar arvore. Portanto, uma semente é uma árvore em potência.
O acto é a tradução escolástica dos termos entelechia e enérgeia. Ambos se referem à perfeição, cumprimento e desenvolvimento das potencialidades de uma substância. O acto refere-se ao que efectivamente é.
A substância é vista como um composto de dois elementos: matéria e forma. Por matéria entende-se aquilo de que algo é feito, por forma entende-se a essência, aquilo que faz com que algo seja o que é, é aquilo que lhe confere sentido. A matéria e a forma não podem existir separadas, só se pode encontrar a matéria debaixo de uma determinada forma e uma forma informando uma matéria. A matéria e a forma são a causa das substâncias naturais (objecto de estudo da Física). A elas, Aristóteles acrescenta quatro causas, que ajudam a compreender um processo ou movimento (porque o importante num processo de conhecimento é explicar, já não basta definir ou discernir, é preciso demonstrar). As quatro causas são então, a causa material (matéria, aquilo de que algo é feito), a causa formal (é o que informa um ente, faz com que ele seja o que é), a causa eficiente ou motora (é o princípio primeiro de movimento ou mudança) e a causa final (é o fim ou a finalidade com que determinada coisa foi feita, é o para quê).
A cosmologia aristotélica não explica como é o Cosmos (Universo), apenas define os astros como esferas perfeitas, com velocidade uniforme e orbitas circulares, são feitos de éter e giram à volta da Terra, sem nunca morrerem (eternidade/perfeição). Segundo Aristóteles, a Terra situa-se no centro do Universo (concepção geocêntrica) e aí permanece imóvel. Para eles o Universo é finito, terminando na esfera das estrelas.
A cosmologia aristotélica diferencia duas regiões do mesmo Universo: o mundo sublunar e o mundo supra ou meta-lunar. O mundo sublunar é a região do Cosmos que abarca toda a parte situada abaixo da Lua (sem incluir esta última): a região terrestre, nosso mundo. Este é constituído por quatro das cinco substâncias primordiais, o ar, água, terra, fogo. Assim, devido à mistura destas quatro substâncias tudo sofre mutação, tudo é corrompido. Para Aristóteles, no mundo sublunar existe mudança e esta é símbolo de desequilíbrio, imperfeição, pelo que o nosso mundo não é perfeito.
Para compreender e estudar estas transformações existe a Física, que se ocupa do estudo das transformações que ocorrem no mundo sublunar. Os movimentos característicos dos seres do mundo sublunar são sempre finitos, significa o mesmo que dizer que têm um princípio e um fim. Todos os corpos que compõem esta região são compostos de quatro elementos que possuem diferentes naturezas.
Os movimentos naturais dos corpos terrestres são rectilíneos, ascendentes (fogo, ar) e descendentes (terra e água). Os movimentos não rectilíneos são sempre violentos ou forçados por algo exterior ao corpo que se move. Assim, supõem uma violação da ordem natural. Além disso, todos os movimentos se realizam com vista a um fim: a manutenção da ordem do conjunto. Se a ordem se altera, a natureza tem os mecanismos adequados para restabelecer a ordem necessária e justa.
O mundo meta ou supra-lunar é a região que abarca a Lua e todos os cinco planetas – Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno –, o Sol e as estrelas.
Esta região é absolutamente diferente da região terrestre: aqui impera a ordem, a harmonia, a regularidade. E é assim porque os corpos celestes não se compõem dos quatro elementos terrestres, mas apenas de éter, "o que sempre corre", que é um material leve, e transparente. O éter ou a quinta essência é um elemento incorruptível e eterno que ocupa o céu conferindo-lhe uma homogeneidade e perfeição que os corpos terrestres jamais poderão ter. Os corpos celestes, compostos de éter, não vagueiam pelo espaço vazio, que é inexistente. Os planetas e as estrelas estão sujeitas a umas esferas de éter que são movidas por motores imóveis. O elemento éter que forma o mundo supralunar tem um movimento (natural e intrínseco) circular e uniforme.
O universo aristotélico não tem princípio nem fim, é eterno.
Por natureza, Aristóteles entende "A natureza é, em todas as coisas que possuem um princípio de movimento, a forma e a essência que não são separáveis a não ser pelo pensamento. Em relação ao composto de matéria e forma, há que referir que não é uma natureza, apenas um ser natural ou por natureza, como é o homem." (Física, II, 193b 3-7)
Susana Lopes

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