Hinduísmo
O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo. Não há um fundador desta religião, ao contrário de tantas outras – no Islamismo, por exemplo, temos Maomé, e no Budismo, o próprio Buda. O Hinduísmo, na verdade, se compõe de toda uma intersecção de valores, filosofias e crenças, derivadas de diferentes povos e culturas.
Para compreender o Hinduísmo, é fundamental situá-lo historicamente. Por volta de 3 000 a.C., a Índia era habitada por povos que cultuavam o Pai do Universo, numa espécie de fé monoteísta. Pouco depois, em 2 500 a.C., floresceu a civilização dravídica, no vale do rio Indo, região que hoje corresponde ao Paquistão e parte da Índia. Os drávidas eram adeptos de uma filosofia de louvor à natureza, de orientação matriarcal e baseada no princípio da não-violência. Porém, em 1 500 a.C., os arianos invadiram e dominaram aquela região, reduzindo os antigos drávidas à condição de "párias" – espécie de subclasse social, que até hoje permanece sendo a casta mais baixa da pirâmide social indiana.
Sobre o Hinduísmo Védico e Hinduísmo Bramânico podemos referir que na primeira fase do Hinduísmo, que recebe o nome de Hinduísmo Védico, temos o culto aos deuses tribais. Dyaus, ou Dyaus-Pitar ("Deus do Céu", em sânscrito), era o deus supremo, consorte da Mãe Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os outros deuses. O Sol (Surya), a Lua (Chandra) e a Aurora (Heos) eram os deuses da luz. Divindades menores e locais são as árvores, as pedras, os rios e o fogo. A partir da influência ariana, o simbolismo de Dyeus passou por uma transformação e tornou-se Indra, jovem divindade que rege a guerra, a fertilidade e o firmamento. Indra representa os aspectos benevolentes da tempestade, em contraposição a Rudra, provável precursor do deus Shiva, o destruidor. Também nesse período surgiram diversas divindades, inclusive Asura, representante das forças maléficas.
Na segunda fase do Hinduísmo, que recebe os nomes de Vedanta (fim dos Vedas) ou Hinduísmo Bramânico, ocorre a ascensão de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma é um dos deuses que compõem o Trimurti (Trindade) do Hinduísmo. Ele representa a força criadora. Os dois outros deuses são Vishnu, o preservador, e Shiva, o destruidor. Neste momento, surge a figura dos brâmanes, que compõem a casta sacerdotal da tradição hindu. Os rituais ganham uma série de componentes mágicos e elaboram-se ideias mais complexas acerca do Universo e da alma, inclusive conceitos como o de reencarnação e o de transmigração de almas.
Numa terceira fase e já no século XII, a Índia é invadida pelos muçulmanos, e grande parte de sua população é forçada à conversão. Aliás, o termo hindu designava qualquer pessoa nascida na Índia, mas a partir do século XIII este termo ganhou uma conotação religiosa, tornando-se sinónimo de "nativo não-convertido ao Islamismo". A influência muçulmana se faz sentir dentro da ritualística hindu, pois uma das características marcantes do Hinduísmo é sua capacidade de absorver novos elementos e agregá-los ao seu sistema de crenças. Isso também ocorre quando, no século XVIII, o Cristianismo se insere no universo indiano, pela influência predominante dos colonizadores franceses.
Este Hinduísmo híbrido também se divide em várias correntes, cujos expoentes são gurus como Sri Ramakrishna (1834-86), Vivekananda (1863-1902) e Sri Aurobindo (1872-1950). O que essas correntes têm em comum é a preocupação em estender o trabalho espiritual ao âmbito social, por meio de trabalhos filantrópicos e assistenciais.
Por força dessa nova fase, a própria organização social da Índia – em sistema de castas –, começa a perder o sentido, pois existe um clamor ético por igualdade e solidariedade. O maior mestre do Hinduísmo moderno é Mahatma Gandhi (1869-1948), conhecido no Ocidente como chefe político, mas venerado na Índia como guru espiritual. Gandhi, adepto da Ahimsa (o princípio da não-violência), apregoava a importância do homem exercer perfeito controlo sobre si mesmo. Hoje, o Hinduísmo é a crença predominante na Índia. Mais do que uma religião, ele se caracteriza como uma tradição cultural, que engloba modo de viver, ordem social, princípios éticos e filosóficos.
Falemos agora sobre as Escrituras Sagradas:
VEDAS: Primeiros livros do Hinduísmo, surgidos aproximadamente no ano de 1 000 a.C., que aglutinam quatro colectâneas de textos. Dentre eles, destaca-se o Mahabharata, que contém o poema épico Bhagavad Gita (A Canção do Senhor). O conteúdo dos Vedas oscila entre o Monoteísmo (culto a um deus único) e o Politeísmo (culto a diversos deuses).
UPANISHADS: Essas escrituras, que podem ser traduzidas como Doutrinas Arcanas, foram redigidas por místicos que representam o expoente máximo do Bramanismo (uma das vertentes do Hinduísmo). Sua estrutura é a de uma série de diálogos entre mestres e discípulos, cujo ensinamento fundamental é o seguinte: o mundo em que vivemos é feito de maya (ilusão), e embora possamos ter a impressão de que o mundo é real, a única verdade é Brahma, a divindade suprema.
É também importante referir fundamentos importantes; por exemplo, para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajectória desse espírito depende das nossas acções, pois a toda acção corresponde uma reacção – Lei do Carma. Enquanto não atingimos a libertação final – chama de moksha –, passamos continuamente por mortes e renascimentos. Este ciclo é denominado Roda de Samsara, da qual só saímos após atingirmos a Iluminação.
Os rituais se compõem de dois elementos principais: Darshan, que é a meditação / contemplação da divindade, e o Puja (oferenda). A alimentação vegetariana é um dos pontos essenciais da filosofia hindu. Isso porque é livre da impureza (morte / sangue), e como todo alimento deve ser antes oferecido aos deuses, não se poderia ofertar algo que fosse "sujo". As preces são entoadas como cânticos no idioma sânscrito, língua "morta" que deu origem ao hindi e a um grande número de dialectos praticados na Índia. Essas preces recebem o nome de mantras. Os mantras são dirigidos a diversas divindades, ou estimulam qualidades pessoais. Em geral, são entoados 108 vezes, e para sua contagem utiliza-se o japa-mala (colar de contas), uma espécie de "rosário", confeccionado em sândalo ou com sementes de rudraksha (árvores consideradas altamente auspiciosas pela tradição indiana). O mantra mais importante é o OM, "sílaba sagrada" que representa o próprio nome de Deus. OM é a semente de todos os mantras e princípio da criação. Foi dele que derivou toda a matéria – neste aspecto, podemos até traçar um paralelo com o génesis da Bíblia: "E o som se fez carne".
Como divindades temos:
Shiva é a divindade que representa o princípio masculino. É o deus da morte, da destruição e das transformações profundas. Sua autuação é fundamental, porque do caos que ele promove, é que se faz a nova vida.
Em geral, é mostrado em movimento de dança, no meio de uma roda de Fogo, elemento da natureza ao qual ele está associado. Sua dança, denominada Tandava, simboliza o eterno movimento do universo. Com o pé direito, ele esmaga a cabeça de uma figura bestial – a ignorância – e com o pé esquerdo ele faz um movimento ascendente, indicando a liberação espiritual.
Na Índia, é comum encontrarmos os saddhus – homens "santos", que renunciam ao mundo e vagueiam em busca de sabedoria e iluminação. Devotos de Shiva, os saddhus costumam andar seminus, têm os cabelos bastante compridos e emaranhados e dedicam-se à prática do ioga, que seria uma expressão da dança de Shiva.
O princípio feminino da criação é Shakti, que se manifesta como Parvati (a mãe), Durga (a deusa da beleza), Lakshmi (senhora da arte e da criatividade) e Kali (senhora da destruição). Todas elas são esposas de Shiva.
Rute Ribeiro
Para compreender o Hinduísmo, é fundamental situá-lo historicamente. Por volta de 3 000 a.C., a Índia era habitada por povos que cultuavam o Pai do Universo, numa espécie de fé monoteísta. Pouco depois, em 2 500 a.C., floresceu a civilização dravídica, no vale do rio Indo, região que hoje corresponde ao Paquistão e parte da Índia. Os drávidas eram adeptos de uma filosofia de louvor à natureza, de orientação matriarcal e baseada no princípio da não-violência. Porém, em 1 500 a.C., os arianos invadiram e dominaram aquela região, reduzindo os antigos drávidas à condição de "párias" – espécie de subclasse social, que até hoje permanece sendo a casta mais baixa da pirâmide social indiana.
Sobre o Hinduísmo Védico e Hinduísmo Bramânico podemos referir que na primeira fase do Hinduísmo, que recebe o nome de Hinduísmo Védico, temos o culto aos deuses tribais. Dyaus, ou Dyaus-Pitar ("Deus do Céu", em sânscrito), era o deus supremo, consorte da Mãe Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os outros deuses. O Sol (Surya), a Lua (Chandra) e a Aurora (Heos) eram os deuses da luz. Divindades menores e locais são as árvores, as pedras, os rios e o fogo. A partir da influência ariana, o simbolismo de Dyeus passou por uma transformação e tornou-se Indra, jovem divindade que rege a guerra, a fertilidade e o firmamento. Indra representa os aspectos benevolentes da tempestade, em contraposição a Rudra, provável precursor do deus Shiva, o destruidor. Também nesse período surgiram diversas divindades, inclusive Asura, representante das forças maléficas.
Na segunda fase do Hinduísmo, que recebe os nomes de Vedanta (fim dos Vedas) ou Hinduísmo Bramânico, ocorre a ascensão de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma é um dos deuses que compõem o Trimurti (Trindade) do Hinduísmo. Ele representa a força criadora. Os dois outros deuses são Vishnu, o preservador, e Shiva, o destruidor. Neste momento, surge a figura dos brâmanes, que compõem a casta sacerdotal da tradição hindu. Os rituais ganham uma série de componentes mágicos e elaboram-se ideias mais complexas acerca do Universo e da alma, inclusive conceitos como o de reencarnação e o de transmigração de almas.
Numa terceira fase e já no século XII, a Índia é invadida pelos muçulmanos, e grande parte de sua população é forçada à conversão. Aliás, o termo hindu designava qualquer pessoa nascida na Índia, mas a partir do século XIII este termo ganhou uma conotação religiosa, tornando-se sinónimo de "nativo não-convertido ao Islamismo". A influência muçulmana se faz sentir dentro da ritualística hindu, pois uma das características marcantes do Hinduísmo é sua capacidade de absorver novos elementos e agregá-los ao seu sistema de crenças. Isso também ocorre quando, no século XVIII, o Cristianismo se insere no universo indiano, pela influência predominante dos colonizadores franceses.
Este Hinduísmo híbrido também se divide em várias correntes, cujos expoentes são gurus como Sri Ramakrishna (1834-86), Vivekananda (1863-1902) e Sri Aurobindo (1872-1950). O que essas correntes têm em comum é a preocupação em estender o trabalho espiritual ao âmbito social, por meio de trabalhos filantrópicos e assistenciais.
Por força dessa nova fase, a própria organização social da Índia – em sistema de castas –, começa a perder o sentido, pois existe um clamor ético por igualdade e solidariedade. O maior mestre do Hinduísmo moderno é Mahatma Gandhi (1869-1948), conhecido no Ocidente como chefe político, mas venerado na Índia como guru espiritual. Gandhi, adepto da Ahimsa (o princípio da não-violência), apregoava a importância do homem exercer perfeito controlo sobre si mesmo. Hoje, o Hinduísmo é a crença predominante na Índia. Mais do que uma religião, ele se caracteriza como uma tradição cultural, que engloba modo de viver, ordem social, princípios éticos e filosóficos.
Falemos agora sobre as Escrituras Sagradas:
VEDAS: Primeiros livros do Hinduísmo, surgidos aproximadamente no ano de 1 000 a.C., que aglutinam quatro colectâneas de textos. Dentre eles, destaca-se o Mahabharata, que contém o poema épico Bhagavad Gita (A Canção do Senhor). O conteúdo dos Vedas oscila entre o Monoteísmo (culto a um deus único) e o Politeísmo (culto a diversos deuses).
UPANISHADS: Essas escrituras, que podem ser traduzidas como Doutrinas Arcanas, foram redigidas por místicos que representam o expoente máximo do Bramanismo (uma das vertentes do Hinduísmo). Sua estrutura é a de uma série de diálogos entre mestres e discípulos, cujo ensinamento fundamental é o seguinte: o mundo em que vivemos é feito de maya (ilusão), e embora possamos ter a impressão de que o mundo é real, a única verdade é Brahma, a divindade suprema.
É também importante referir fundamentos importantes; por exemplo, para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajectória desse espírito depende das nossas acções, pois a toda acção corresponde uma reacção – Lei do Carma. Enquanto não atingimos a libertação final – chama de moksha –, passamos continuamente por mortes e renascimentos. Este ciclo é denominado Roda de Samsara, da qual só saímos após atingirmos a Iluminação.
Os rituais se compõem de dois elementos principais: Darshan, que é a meditação / contemplação da divindade, e o Puja (oferenda). A alimentação vegetariana é um dos pontos essenciais da filosofia hindu. Isso porque é livre da impureza (morte / sangue), e como todo alimento deve ser antes oferecido aos deuses, não se poderia ofertar algo que fosse "sujo". As preces são entoadas como cânticos no idioma sânscrito, língua "morta" que deu origem ao hindi e a um grande número de dialectos praticados na Índia. Essas preces recebem o nome de mantras. Os mantras são dirigidos a diversas divindades, ou estimulam qualidades pessoais. Em geral, são entoados 108 vezes, e para sua contagem utiliza-se o japa-mala (colar de contas), uma espécie de "rosário", confeccionado em sândalo ou com sementes de rudraksha (árvores consideradas altamente auspiciosas pela tradição indiana). O mantra mais importante é o OM, "sílaba sagrada" que representa o próprio nome de Deus. OM é a semente de todos os mantras e princípio da criação. Foi dele que derivou toda a matéria – neste aspecto, podemos até traçar um paralelo com o génesis da Bíblia: "E o som se fez carne".
Como divindades temos:
Shiva é a divindade que representa o princípio masculino. É o deus da morte, da destruição e das transformações profundas. Sua autuação é fundamental, porque do caos que ele promove, é que se faz a nova vida.
Em geral, é mostrado em movimento de dança, no meio de uma roda de Fogo, elemento da natureza ao qual ele está associado. Sua dança, denominada Tandava, simboliza o eterno movimento do universo. Com o pé direito, ele esmaga a cabeça de uma figura bestial – a ignorância – e com o pé esquerdo ele faz um movimento ascendente, indicando a liberação espiritual.
Na Índia, é comum encontrarmos os saddhus – homens "santos", que renunciam ao mundo e vagueiam em busca de sabedoria e iluminação. Devotos de Shiva, os saddhus costumam andar seminus, têm os cabelos bastante compridos e emaranhados e dedicam-se à prática do ioga, que seria uma expressão da dança de Shiva.
O princípio feminino da criação é Shakti, que se manifesta como Parvati (a mãe), Durga (a deusa da beleza), Lakshmi (senhora da arte e da criatividade) e Kali (senhora da destruição). Todas elas são esposas de Shiva.
Rute Ribeiro
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